sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Diário de um fã

Jorge Ignácio era um adolescente como outro qualquer de sua idade. Adorava curtir, sair com os amigos, não dava muita bola para os estudos e era fã, muito fã de um cantor famoso.
O cantor em questão era Roberto Farias, um artista jovem que com suas canções românticas embalava multidões em seu shows, e com Jorge não era diferente.
Jorge acompanhava Roberto desde o começo da carreira, fundando com seus amigos até um fã clube intitulado Roberto F.F (Farias Forever).
A paixão de Jorge por Roberto, como há de ser uma paixão, ultrapassou todos os limites de sanidade, quando Jorge decide que ser fã apenas não basta, que ele merecia mais pelo tempo que tem dedicado de sua vida a Roberto e decide então que quer conhecer o mesmo pessoalmente, e ouvir uma canção exclusiva para ele.
No começo, amigos e parentes acharam a idéia engraçada e até entraram na brincadeira, porém começaram a dar conselhos para ele “esquecer” essa idéia maluca, depois que percebem que isso foi um pouco além dos limites.
Jorge passou a correr atrás de agenda do cantor, horários de hospedagem de hotel, freqüentar restaurantes, pontes áreas, tudo que pudesse dar uma dica de onde estaria Roberto... Porém nada acontece.
Jorge vai ficando cada vez mais interessado nesse encontro, e como uma obsessão que não se sacia, passa a dedicar o seu tempo integralmente a isso. Nessa altura do campeonato, têm faltado às aulas, está distante dos amigos, tem integralmente sua vida voltada ao plano de encontrá-lo e ouvir uma canção só para ele.
Até que uma chance pra Jorge aparece, Roberto está ali, na sua cidade, próximo dele para fazer um super show para milhares de pessoas, Jorge sabe que aquela é a sua chance e não quer desperdiçar. Ele mapeia tudo, mapeia todos os passos de Roberto tentando achar um brecha, descobre o hotel que ele vai ficar, porém não o vê. Vai à porta da rádio que ele daria entrevista, porém o mesmo não aparece, fica na porta do restaurante que ele costuma jantar, porém nada de Roberto... Jorge vai para casa desolado.
Mas é noite de show e Jorge mesmo triste, vai ao encontro do seu ídolo com mais uma multidão que o espera. Junto com os outros jovens da sua idade ele vai para porta do show, canta as músicas de Roberto à espera para entrar no evento, até que... O ônibus de Roberto é avistado e a multidão fica ensandecida na busca de uma foto, de um tchau de um aceno qualquer do ídolo.
É um empurra-empurra, é uma briga uma histeria até que o silêncio toma conta do local, tudo para... Uma pessoa é pisoteada, atropelada e acaba falecendo... Era Jorge...
No dia seguinte, vários amigos vão prestar a última homenagem a ele, vestindo camisas do Roberto Farias e cantando suas canções todos saldam Jorge que está de caixão aberto participando de tudo do seu jeito, do jeito que agora é possível. Sua aparência serena e frustrada, dita bem em que condições ele se foi. Até que um silêncio toma conta de novamente, o mesmo silêncio que se despediu de Jorge, agora saúda Roberto que vem dar Adeus ao seu fã desconhecido e como uma forma singela de homenagem canta ali, a capela, um de seus grandes sucessos, especialmente para Jorge. A emoção toma conta de Roberto, e a tristeza dos amigos... Enquanto isso quase se pode ver um esboço de um sorriso ainda que tímido no rosto de Jorge, em saber que seu plano friamente calculado deu certo e sua morte programada, sim, a sua morte programa... Não foi em vão...

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