quarta-feira, 29 de junho de 2016

Aham

E eu não sei bem se foi por soberba 
Ou medo de se magoar.
Que você começou a nossa história da forma mais pessimista possível:
Já com a certeza desde o principio que não daria em nada.
Que eu e você nunca daríamos certo.

E assim:
Fez questão de não se envolver.
Desconfiou de tudo.
Interpretou cada colocação
Atitude
E frase dita
Da pior maneira possível.

Só pra final das contas
(Sem perceber que sua própria descrença
Foi o que mais nos afastou)

Orgulhosamente enaltecer seu “sexto sentido”
Dizendo pra si mesmo:

“Eu já sabia...”

Logo Nós?

E a gente podia ter sido cordeais.
Amenizado as coisas.
Mentido
Falado que estava tudo bem
Mesmo sem estar.

E a gente podia ter dado pistas
Mandado recados 
Se enchido de indiretas.
Dizer tudo 
Mesmo sem querer dizer.

E a gente podia ter pedido desculpas
Falar que foi sem querer
Que não teve culpa
Que não vai se repetir
Mesmo que se repetisse.

E a gente podia ter falado muito
Vomitado tudo que viesse a cabeça
Dito um monte de coisas
Mesmo pra depois se arrepender.

E quem sabe assim não teríamos que explicar:

Como que com tanta merda sendo dita 
Logo eu e você
Tínhamos que ter ficado em silêncio?

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Soneto do Faz Pouco

Eu e você vivíamos um ótimo momento
E nossa química era o reflexo.
Talvez esse seja o motivo do meu ar tão perplexo
Em ouvir aos prantos o seu lamento.

Era possível sentir o seu sofrimento
Na agonia, de expor um assunto tão complexo
De que era ótima a nossa rotina recheada de sexo
Mas que ainda assim, faltava sentimento.

Entramos a fundo no exercício de admiração pelo outro.
E fomos buscar no desenrolar de cada dia
A parte que determinava o nosso valor.

Mas no fim das contas, olha só que ironia:
Depois de tanta briga, agora que enfim virou amor
Sabe-se lá por quê, a gente fode pouco...

quinta-feira, 16 de junho de 2016

CarregaDor

E lá vem ele distraído
Vivendo a vida por seu celular
Com um fio saindo pelo bolso.
(Provavelmente a carga está cheia
Mas a vida vazia)
Muito mais preocupado de ser encontrado
E não sair de casa sem um carregador.
Do que se encontrar
Dentro de um coração que carrega dor.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Só Queria Saber

E eu só queria sabe quando foi que perdemos o direito de sermos sinceros.
De conseguir falar a verdade.
O que sente e o que não se sente.
O que gosta e o principalmente o que não gosta
Sobre qualquer assunto.
De dizer para um amigo que discorda dele
Que não concorda com seu ponto de vista
E ainda assim continuarem amigos.

Eu só queria quando foi que perdemos o poder de sermos espontâneos.
De poder falar que não gostou de algo que fizeram sem parecer neurótico.
De falar que o “seu silêncio é falta de educação” sem parecer dramático.
De falar que sente saudades sem parecer grudento ou mentiroso.
De não jogar.
De falar o que se tem vontade sem rodeios
Sem ter que pisar em ovos
Ou ter a obrigação de ser politicamente correto.

Eu só queria saber quando foi que perdemos o poder de ter uma opinião própria.
De ter a oportunidade de fugir do senso comum
De ser uma exceção.
De não ter um padrão definido.
De não agir da mesma maneira que todos agem.
De não gostar das mesmas coisas que os outros gostam.
De não pensar como os outros pensam.
Sem ser julgado ou chamado de sonhador
Ou imaturo.

Eu só queria saber quando foi que perdemos o poder da empatia.
De não enxergar os tantos lados da mesma coisa.
De sermos radicais
Intolerantes
De combater o mal com mal.
De não termos a habilidade social do diálogo.
De não pensar no outro
De não enxergar o outro.
De ter o sorriso falso.
De não ser o que postamos.
Do discurso perfeito e da atitude não coerente.
Da soberba de nós acharmos melhor de quem não pensa como a gente.

Eu só queria saber quando foi que deixamos de ser únicos.
Que fomos divididos por estereótipos
Segmentos
E nichos.
Que temos que seguir padrões
Fórmulas
E caminhos.
Que somos obrigados a repetir o feito de outros
A sermos infelizes por conta de dinheiro
De viver uma vida medíocre por um bem maior que nunca chega.
De não sermos sinceros nem com nós mesmo.
De parecer socialmente feliz e correto.
(mesmo morrendo por dentro)

E todos os dias de manhã antes de lavar o rosto
Ter que responder pra si:

“Quando foi que deixamos de ser nós mesmo??”


Eu só queria saber...

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Caixa de Coisas Que a Gente Não Sabe

O reconfortante nisso que acontece com a gente
É que eu sei que nada vai ficar assim
Tão confuso 
Esquisito 
E indefinido pra sempre.

Como se o futuro
Fosse apenas mais um lugar a ser inaugurado
Com cartaz na porta escrito “em breve”.
E tudo que a gente ainda não descobriu
Simplesmente estivesse lá
Pronto para ser mostrado 
Na hora certa.

E o tempo realmente tivesse esse incrível poder de tomar decisões
Resolver tudo por nós.

Aliviar as dores.
Mágoas.
Saudades.

Consertar os mal entendidos.
Erros.
Frases ditas por dizer.

Colocar as vírgulas
Pontos 
Exclamações
Pingos nos i´s.

Revelar tudo que fomos e somos.
Uma infinidade de coisas que a gente não sabe 
(E nem nunca quis enxergar)
Sobre os outros e principalmente nós mesmos

E de quebra
Ainda ter a total autonomia pra decidir no meio de turbilhão
De "não sentimentos"

Se enfim a gente vira amigos.

Ou se continuamos assim:

Com esse vazio
Nessa ausência esquisita.

Parecendo na verdade
Que nunca nem aconteceu...

Álbum

E no álbum da minha vida

É sua a foto
Que eu nunca apaguei... 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

S = So + V.t

O tempo vai passando.

E se você vive nas mesmas condições gravitacionais de todos
Ou não existe nenhum buraco de minhoca perto de você.

É nesse momento que tudo acontece...

Provavelmente o primeiro a sentir é o corpo.

Ele vai se cansando.
Perdendo a disposição de outrora.

Começa da dar sinais de desgaste.
Desde uma dor inédita em uma junta qualquer
Ou no cabelo que vai caindo
(Enquanto o que resta fica branco).

Os braços já não aguentam a mesma coisa.

O metabolismo como a gente
Fica cada vez mais preguiçoso.

Esquece aquela coisa de emagrecer em 5 dias.

A realidade agora é que 
Demora-se semanas para "perder" um rodizio de pizza
Ou ao menos uns 3 dias para se curar de um porre.

O rosto fica diferente do amarelo da fotografia antiga.
As rugas e marcas deixam-o com o tom mais sério e responsável.

É visível o pedágio que o tempo cobra a quem sobrevive a ele.

Os finais de semana já não significam a mesma coisa.
Pipoca
Filme 
E cama 
Passam a ter uma força de atração gigantesca.

Tudo muda.
Inclusive a relação com o dinheiro.

Ela fica menos prática e mais injusta.

Você deixa de gastar dinheiro com o que queria
E passa a ter a obrigação de gastar com o que precisa.

Repetimos frases que só os velhos diziam.
Fazemos coisas que só os “velhos” faziam.
Temos manias que só os “velhos” tinham.

E a gente começa a não entender porque nos olham como velhos.

Se no fundo a gente se sente tão bem
Tão jovem...

Algumas pessoas vão.
Outras vêm.

Mas nada nunca é igual 
Tudo muda.

Certas saudades 
Quando a gente percebe já se foram.

Já outras aparecem do nada
E tudo que podemos fazer é se acostuma com elas.

Infelizmente nunca mais irão embora.

Criamos uma certa aversão ao novo.
Tudo antigamente era melhor.
"Na minha época que era bom"
Repetimos aos "menos experientes" cada vez que precisamos  questionar as facilidades do nosso tempo.

As reuniões com os amigos são mais espaçadas e tranquilas.

Um aniversário corrido durante a semana
Um vinho em um sábado chuvoso.

As festas?
De casamento ou de crianças
Isso quando somos convidados.

Os sonhos continuam parte vital de nós.

Alguns a gente até realizou e já esqueceu.

Outros a gente ainda sonha
E vão ficando cada vez mais próximos.

Enquanto uns tantos se perdem no decorrer das prioridades
Que em certo momento a gente olha pra trás e pergunta:
"Sério mesmo que eu queria isso?"

Agora nos encantamos por outras coisas.
Temos novos gostos.
Ficamos mais rigorosos
Exigentes
Valorizamos outros detalhes
Coisas que nunca imaginávamos gostar. 
  
Olhando pra trás tudo faz mais sentido.

A gente descobre que muita coisa que a gente esperava
Jamais chegou.

Enquanto
Tanta coisa que a gente sequer imaginou
Simplesmente aconteceu
E cá entre nós...
Foi lindo!

A gente passa mais tempo com a gente mesmo
Se entende melhor
Descobre o que gosta
E principalmente o que não gosta.

E assim...

Aceitamos que tudo foi exatamente do jeitinho que tinha que ser!

Nos tornamos o que estávamos destinados a nos tornar:

Um objeto em constante formação.
Cheio de planos
Sonhos
Ideias
Vontades
Desejos
E sentimentos.

Que quer tanta coisa coisa grandiosa
Mas não percebe pequenos detalhes.

E por isso às vezes demora uma vida inteira
Pra perceber que enquanto sempre se preocupou com tanta coisa desnecessária.

Tudo que sempre importou no meio de disso tudo foi:

Os momentos que tivemos
Os sorrisos que já demos.
E a indefinição do tanto de tempo que ainda nos resta

Pra conseguir ser feliz...