Caro ex- amor,
Apesar de toda dor que eu vivi durante muito
tempo, eu queria te agradecer profundamente por inúmeras coisas.
Queria te agradecer por ter um gosto musical tão ruim, e assim
eu só ter me lembrado de você pelo pouco tempo que aquela música brega que você
dizia ser nossa fez sucesso. Ou em outros momentos como quando eu ia a alguma
festa com nível bem duvidoso, ou ouvia a tal rádio horrível que era a sua estação favorita no
carro.
Queria te agradecer por todas as vezes que você me magoou
colocando fotos suas na internet. Fotos sem camisas, sempre bêbado, com amigos mongoloides
e tantas mulherezinhas com cabelo cheio de Kolene. Foi ótimo para eu ver com o
passar do tempo o quão infantil e fútil você era, que você ainda estava na fase
de ter “turma” e que graças a Deus eu nunca fui dela.
Queria te agradecer por todas as vezes que vimos seus tipos
de filmes no cinema. Porque doía, doía lá dentro toda vez que passava na
televisão algum filme que vimos juntos. Mas como era um filme bem clichê e
chato, passava logo, era uma só vez e nada mais. Ah, queria te agradecer também
por nunca ter me levado para ver um filme que reprisasse sempre como a Lagoa
Azul, por exemplo, porque aí sim ia ser difícil de ver passando toda semana na
Sessão da Tarde.
Queria te agradecer pelos restaurantes que você não me
levou, pelas surpresas que você não me fez, pelas datas que você nunca ligou,
pelos detalhes que você fez pouco caso, pelas palavras que você não me disse e
pelas viagens que a gente não fez. Agradecer mesmo por essas lembranças que não
existiram e poderiam ter me magoado ainda mais durante os choros noturnos ou domingos
tediosos. Acredite que elas foram de suma importância para a “falta de referências”
durante minha recuperação.
Queria te agradecer por nunca ter se importado realmente
como eu estava. Nunca ter vivido a troca que todo relacionamento pede. Nunca
ter tido um interesse genuíno sobre o meu dia, meu trabalho, minha família. E assim,
de certo modo, eu não senti aquela vontade absurda que normalmente eu sentiria de
te contar que recebi a promoção no trabalho que eu tanto almejava, que
meus tios do interior se separaram, e que lá em casa, apesar de tantos
problemas, enfim estava tudo bem.
Queria te agradecer pelas vezes que você puxou assunto mesmo
sabendo que eu ainda gostava de você. Que fez questão de brincar comigo, me
prometer inúmeras coisas e manteve em mim uma esperança que já não era pra
existir. Só assim foi possível enxergar como você era egoísta, inconsequente,
que só pensava em você e nunca esteve nem aí pra mim ou para o que qualquer
pessoa no mundo sentia.
Queria te agradecer por não ser vaidoso e não ligar muito
para certos tipos de coisas. E assim graças
a Deus, eu não lembrava de você quando eu ia ao shopping e via aquela roupa linda que era a sua cara. E muito menos tinha que me preocupar se aquele homem que eu tanto
flertava na noite me lembraria você em algum detalhe, usaria uma blusa parecida
com a sua, ou teria ou não o cheiro do perfume exatamente como
o seu.
Queria te agradecer por tudo que fez depois que terminamos. Por
cada atitude que tomou, por cada frase que disse, por cada foto que postou no Instagram, por cada asneira que disse no Facebook, por cada amizade que
estabeleceu, por cada quilo que engordou, por cada futilidade que fez, por
cada pessoa que se relacionou, por cada meia preta que foi para academia, por cada regata que usou a noite, por cada segundo que
não evoluiu e que me fez enfim perceber a duras penas, que nós dois realmente
não tínhamos nada a ver.
E queria te agradecer principalmente, do fundo do meu coração,
pelo pouco que você me deu. Porque só assim,
a primeira pessoa que me doou mais atenção que eu estava acostumada, já foi o
suficiente para eu seguir em frente, conseguir te esquecer e de quebra ainda nutrir
uma visão solidária de que na verdade você nem era tão ruim, eu que sempre fui
boa demais pra você.
Do sua eternamente grata...
Ex-amor...