quinta-feira, 3 de abril de 2014

Carta Aberta Para Um Ex-Amor

Caro ex- amor,

Apesar de toda dor que eu vivi durante muito tempo, eu queria te agradecer profundamente por inúmeras coisas.
Queria te agradecer por ter um gosto musical tão ruim, e assim eu só ter me lembrado de você pelo pouco tempo que aquela música brega que você dizia ser nossa fez sucesso. Ou em outros momentos como quando eu ia a alguma festa com nível bem duvidoso, ou ouvia a tal rádio horrível que era a sua estação favorita no carro.

Queria te agradecer por todas as vezes que você me magoou colocando fotos suas na internet. Fotos sem camisas, sempre bêbado, com amigos mongoloides e tantas mulherezinhas com cabelo cheio de Kolene. Foi ótimo para eu ver com o passar do tempo o quão infantil e fútil você era, que você ainda estava na fase de ter “turma” e que graças a Deus eu nunca fui dela.
Queria te agradecer por todas as vezes que vimos seus tipos de filmes no cinema. Porque doía, doía lá dentro toda vez que passava na televisão algum filme que vimos juntos. Mas como era um filme bem clichê e chato, passava logo, era uma só vez e nada mais. Ah, queria te agradecer também por nunca ter me levado para ver um filme que reprisasse sempre como a Lagoa Azul, por exemplo, porque aí sim ia ser difícil de ver passando toda semana na Sessão da Tarde.

Queria te agradecer pelos restaurantes que você não me levou, pelas surpresas que você não me fez, pelas datas que você nunca ligou, pelos detalhes que você fez pouco caso, pelas palavras que você não me disse e pelas viagens que a gente não fez. Agradecer mesmo por essas lembranças que não existiram e poderiam ter me magoado ainda mais durante os choros noturnos ou domingos tediosos. Acredite que elas foram de suma importância para a “falta de referências” durante minha recuperação.
Queria te agradecer por nunca ter se importado realmente como eu estava. Nunca ter vivido a troca que todo relacionamento pede. Nunca ter tido um interesse genuíno sobre o meu dia, meu trabalho, minha família. E assim, de certo modo, eu não senti aquela vontade absurda que normalmente eu sentiria de te contar que recebi a promoção no trabalho que eu tanto almejava, que meus tios do interior se separaram, e que lá em casa, apesar de tantos problemas, enfim estava tudo bem.

Queria te agradecer pelas vezes que você puxou assunto mesmo sabendo que eu ainda gostava de você. Que fez questão de brincar comigo, me prometer inúmeras coisas e manteve em mim uma esperança que já não era pra existir. Só assim foi possível enxergar como você era egoísta, inconsequente, que só pensava em você e nunca esteve nem aí pra mim ou para o que qualquer pessoa no mundo sentia.

Queria te agradecer por não ser vaidoso e não ligar muito para certos tipos de coisas.  E assim graças a Deus, eu não lembrava de você quando eu ia ao shopping e via aquela roupa linda que era a sua cara. E muito menos tinha que me preocupar se aquele homem que eu tanto flertava na noite me lembraria você em algum detalhe, usaria uma blusa parecida com a sua, ou teria ou não o cheiro do perfume exatamente como o seu.
Queria te agradecer por tudo que fez depois que terminamos. Por cada atitude que tomou, por cada frase que disse, por cada foto que postou no Instagram, por cada asneira que disse no Facebook, por cada amizade que estabeleceu, por cada quilo que engordou, por cada futilidade que fez, por cada pessoa que se relacionou, por cada meia preta que foi para academia, por cada regata que usou a noite, por cada segundo que não evoluiu e que me fez enfim perceber a duras penas, que nós dois realmente não tínhamos nada a ver.

E queria te agradecer principalmente, do fundo do meu coração, pelo pouco que você me deu.  Porque só assim, a primeira pessoa que me doou mais atenção que eu estava acostumada, já foi o suficiente para eu seguir em frente, conseguir te esquecer e de quebra ainda nutrir uma visão solidária de que na verdade você nem era tão ruim, eu que sempre fui boa demais pra você.
Do sua eternamente grata...
Ex-amor...

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