Pra você já estava decidido como seria meu estilo. E com isso me encheu de roupas que você “achava”
que eram a minha cara em forma de presente. Definiu o cabelo que melhor ficaria
em mim. O tipo de barba que combinava
com o formato do meu rosto. O tipo de tênis e sapato que eu deveria
obrigatoriamente usar em cada situação. A blusa xadrez pra fora, o detalhe da
calça rasgada que provavelmente lembrava algum ex-namorado seu. Até minha cor
favorita, no final das contas era a cor favorita que você queria que eu
tivesse.
Pra você já estava decidida como seria a minha
personalidade. E assim, me cobrava carinhos que nunca fui de fazer. Já tinha
definido o que deveria ou não ou não aceitar. Qual seria minha hora de falar
sim ou não para o que você me pedia, afinal, você já tinha definido que eu não
seria um completo banana. Já sabia qual
seria meu grau exato de ciúme, em quais momentos eu deveria ou não procurar
você, e assim, toda vez que minha voz saia para responder alguma pergunta sua,
na verdade, era sua própria voz que falava algo.
Pra você já estava definido meu estilo de vida. E assim, “coincidentemente”
os meus hobbies eram os mesmos que os seus. Você já tinha decidido os meus
locais favoritos, quais os tipos de filmes que eu gostava de ver no cinema, que
músicas eu gostava de ouvir na sua rádio favorita, quais os livros que eu
deveria ler, até que chegou ao ponto em que eu deveria ver com você o que eu
queria fazer nas minhas horas vagas.
Pra você já estava definido a minha condição financeira. E
assim, nunca me perguntou muito bem o que minhas posses me possibilitariam ou
não fazer. Você já tinha decidido as nossas próximas férias, sem ao menos saber
se eu teria tempo pra viajar. Você já sabia quais restaurantes iriamos comer,
quais presentes eu teria que te dar nos momentos especiais, o que de grandioso faríamos
no final de semana. Já tinha anotado em
uma planilha, todo o investimento que eu teria de ter, pra te fazer feliz.
Pra você já estava definido o meu eu idealizado. Que eu seria realmente um
príncipe que você sonhou desde a sua infância. Um protagonista de
novela, o mocinho que faria de tudo pra ficar com a mocinha. Que nosso amor seria como um filme, de amor a primeira vista, fogos e
festa no primeiro encontro. E assim esperou de mim as
atitudes de uma pessoa perfeita, viu em mim uma possibilidade de reviver um
conto de fadas, colocou sobre os meus ombros o peso de ser algo impossível de
ser, e se decepcionou quando descobriu que eu, era apenas um cara normal, que
poderia ser especial, simplesmente por gostar de você.
Depois de tantas projeções, você tirou todo peso das suas expectativas e justificou
para você mesmo e para o mundo, o bom e velho que a “gente não tem nada a ver”, "tenho um bloqueio", “falta algo
nele”, “vida tem dessas coisas” e que inexplicavelmente o nós “não bateu”. Deu por fim a nossa estória de amor.
E assim você foi embora, levando todos os seus anseios para
despejar sobre outro alguém. Sabendo exatamente o que queria que eu fosse, mas sem ter a mínima noção, de quem eu realmente era...
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