segunda-feira, 14 de maio de 2007

Era só mais um Silva

Jorge Henrique Bongoville era de uma Família muito tradicional de São Paulo e assim como todos os seus antepassados tinha muito orgulho de seu sobrenome, aliás... Mais que orgulho, Jorge Henrique cresceu com uma verdadeira obsessão pelo seu sobrenome. Na época do colégio Santa Inês em São Paulo (um dos mais tradicionais do País) era freqüentemente visto escrevendo seu nome em cadernos, cadeiras e se apresentava para quem conhecia apenas como Bongoville.
Jorge Henrique foi crescendo e a vaidade não foi deixada de lado, já que em seus relacionamentos Jorge passou a procurar apenas moças que tinham sobrenomes tradicionais como o seu. Moças como sobrenomes como Pereira, Oliveira, Costa, Santos, Ferreira, etc. poderiam ter a beleza que fosse Jorge dispensava, o namoro começava e era só descobrir o sobrenome que Jorge descartava sem qualquer piedade, sentindo o que quer que fosse pela menina.
Procurando uma moça perfeita (em sua concepção, bonita e com o sobrenome imponente) Jorge passou a freqüentar o clube de Hipismo do bairro do Morumbi, um dos clubes mais bem freqüentados do Estado de São Paulo. E foi em uma dessas idas, que Jorge já na idade adulta encontra por Mariana a quem se apresenta no bar do clube e diz:
-Prazer, Jorge Henrique Bongoville (com ênfase no Bongoville)
Com um sorriso encantado a moça diz:
-Prazer, Mariana Deweck
Mariana era da família Deweck, uma das famílias mais influentes no meio farmacêutico de São Paulo. Pronto Jorge Henrique tinha achado o que tanto procurava.
Daquele momento em diante os dois ficaram amigos e mantiveram o contato até que começou o namoro. Depois de um tempo e da sintonia perfeita em que o casal vivia, de forma tradicionalíssima (já que não poderia ser diferente) Jorge pede Mariana em casamento e a mesma diz sim.
As famílias ficaram em festa, a alegria total de Jorge parecia não ter fim... Mas teve, no dia em que ele viu o convite de casamento com o nome total dos noivos que dizia
“Jorge Henrique Bongoville e Mariana Deweck da Silva convidam...”
- O quê????? Da Silva?????
Diz Jorge sem acreditar no que vê
- Como não me atentei para isso, como???
A mãe de Mariana tinha casado com um dos funcionários de sua fábrica Oscar da Silva e Jorge não sabia.
Agora era tarde o inevitável tinha acontecido e Jorge não poderia fazer mais nada contra isso.
O desapontamento de Jorge ficou visível para todos, e Mariana chegava a perguntar o que estava acontecendo:
- O que houve Jorge?
- Não é nada não
- Mas você anda muito estranho
- Deve ser o nervosismo.
E o dia chega para Jorge que no altar a ouvir o nome da noiva, quase passa mal, mas é homem e diz o sim com um ar de quem estava sendo mandado para a cadeira elétrica.
Eles se mudam para uma casa linda, grande com direito a limpador de piscina, caseiro e jardineiro e Jorge passa a relaxar um pouco e pensa que pode apresentar a sua noiva para todos apenas como Deweck e que provavelmente ninguém presta a atenção em convite de casamentos e é nesse momento em que ele já está mais tranqüilo que ela vem com a notícia:
- Amor, estou grávida
- Como???
- Grávida amor, nos vamos ter um filho
- Filho??? E qual será o nome?
- Não sei, vamos escolher.
Pronto, o herdeiro de Jorge teria que carregar um sobrenome manchado, pensando nisso Jorge tem a seguinte idéia.
- O sobrenome seria, Deweck Bongoville certo??
- Não né Jorge, o certo é a criança ter o último nome e eu já não tenho mais o Bongoville, era meu sobrenome de solteira.
E nesse momento Jorge percebeu a besteira que tinha feito.
Um mês se passou e Jorge estava cada vez mais abatido, até que tem uma idéia brilhante e vendo Tv ao lado de Mariana ele grita.
- JUNIOR!!!
- Que isso Jorge, está louco??
- O nosso filho, terá meu nome e irá se chamar Junior
- Ai, não sei Jorge
E ele continua seu plano:
- Vamos fazer o seguinte, se for menino eu escolho, se for menina você escolhe tudo bem...
- Tudo bem, mas então n saberemos o sexo, será surpresa, ok?
- Tudo bem...
E Jorge passa a viver os outros meses um pouco melhor, pois matematicamente teria 50% de chances de salvar seu sobre nome. Dizem até que Jorge foi em resadeira, em igreja, centro espírita, fez promessa, fez de tudo para ter um filho.
Até que Mariana passa mal e Jorge recebe a notícia e vai para o hospital. Era visível que mais do que com a saúde da criança e da mãe, ele se preocupada com o sexo e chegando no hospital ele recebe a notícia.
- Meus parabéns, você é pai de uma menina linda. Diz o Dr.
Jorge se desespera e como quem recebe a notícia de uma doença incurável, disfarça e sai correndo do hospital.
Liga depois e diz que teve que viajar de urgência uns tempos a negócio.
Passam se duas semanas e Jorge sabe que tem que voltar para casa.
Ele está tenso, nervoso, ainda não acredita no que acontece com ele, Jorge Liga o rádio do carro em mais uma daquelas rádios que tocam sucessos antigos e bem no meio de Hunting High and low do A-ha ele chega em casa.
Ele não sabe o que falar pra mulher, não sabe o que fazer, e quando ele avista sua mulher dando ordens para o jardineiro ele tem a brilhante idéia. Jorge pega a pá que o mesmo usava para cavar e acerta o jardineiro até deixa-lo inconsciente e diz gritando para sua mulher.
- Olha, eu até te perdôo, mas filho de outro eu não registro... Não Registro.
E foi assim que cresceu Camila da Silva... Sem o nome do pai.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

O casamento

Sarah e Alice eram amigas desde sempre, talvez antes mesmo de nascerem já eram amigas, era mais uma daquelas amizades que vem de geração em geração, das avós, para as mães até elas.
Tinham aproximadamente a mesma idade, por isso na escola sempre freqüentavam as mesmas salas, tinham as mesmas amizades, os mesmos gostos pareciam ser uma pessoa só, se queria procurar por Alice ia até Sarah e vice-versa.
O tempo foi passando e a amizade das duas foi ficando cada vez mais fortes, ambas decidem seguir a mesma carreira universitária e a trabalharem juntas.
Mas um dia, essa amizade antes inabalável começa a demonstrar uma certa pitada de fraqueza, é quando Edson um rapaz do trabalho passa a ser um problema na amizade das duas.
Edson era um rapaz jovem, muito bonito, inteligente e despertava o suspiro entre todos do escritório principalmente de Sarah.
E foi em um dia desses de filme com direito a chuva e tudo que Edson e Alice em mais um desses acasos do destino, puderam se conhecer melhor e logo após o primeiro beijo o namoro foi consolidado.
Sarah, não gostou nem um pouco do namoro e como quem já se afastará da amiga dizia pelos corredores da empresa:
-Eu não sei o que viu nela, juro que eu não sei.
O Ciúme de Sarah era visível e deixava Alice muito triste, pois ainda sentia muita falta da amiga, mas entendia a sua revolta.
O tempo foi passando e o amor do casal foi ficando ainda mais forte e a amizade das duas cada vez mais distante.
Em mais um de seus passeios românticos Edson pede Alice em casamento, que assustada aceita, pronto, ali estava decretada o fim de uma amizade de anos. Sarah fica possessa, não acredita no boato que escuta nos corredores e em um momento de total desespero vai à sala de Edson e diz:
- Vocês vão se casar???
- Sim, e eu estou muito feliz!
Ela não acredita no que escuta e rebate com um ar agressivo a afirmação de Edson
- Mas vocês mal se conhecem!!!
- Não importa porque nos amamos...
E Sarah não diz mais nada, apenas sai do escritório com a mesma voracidade que entrou, sai do prédio, não aceita ter perdido assim, chora por um dia inteiro e pede licença por não agüentar o ciúme que sente.
Voltando de sua Licença Sarah se surpreende com o convite de casamento deixado na mesa por Alice e no momento que ia rasgar a mesma aparece em seu escritório e diz...
- Não faça isso
- Isso o quê?
- Sarah, não rasgue, por favor
-Olha...
- Não Sarah, olhe você... Já passamos por tantas coisas juntas, tantas alegrias, tristeza, tantos momentos você é como uma irmã pra mim e não quero que nada nem ninguém estraguem isso.-Mas...- Deixe-me acabar... Quero você ao meu lado nesse importante da minha vida, quero que você vá ao meu casamento.
Alice dá um tapa sem mão em Sarah que apenas se cala, abaixa a cabeça e como quem reconhece o erro faz um sinal de sim, ainda tímido com a cabeça.
O tempo passa e Sarah pensa bastante nisso,tira conclusões, até que o grande dia chega.
Alice e Edson estão animadíssimos fazem uma cerimônia linda, super tradicional, com direito a coral, orquestra e uma festa para 500 pessoas após a cerimônia na igreja.
Sarah vai, e vai sozinha, mesmo sentindo, mesmo sofrendo, atende o pedido da amiga vai ao casamento e leva um jogo de panelas como presente aos noivos.
E o momento está próximo, Edson nervoso já espera por Alice há mais de uma hora no altar, até que a noiva chega, de vestido branco e tudo que tem direito, Alice está linda e é nesse momento que se vê uma lágrima caindo dos olhos de Sarah.
Enquanto o Padre faz toda a cerimônia a história das duas começa a passar pela cabeça de Sarah que impulsionada por um força vindo do além grita no meio da cerimônia.
- Não, eles não podem se casar.
Ao contrário de que ela via nos filmes, não teve nenhum “ohhhhh”, apenas um silencio irritante em que todos da igreja olhavam para mesma direção, para Sarah que não se abala e olha para Edson com um olhar meigo e piedoso, como quem quisesse se desculpar.
Alice não acredita naquilo, não acredita que a amiga tinha tido coragem para fazer aquilo e se movimenta lentamente em direção a amiga e diz bem baixinho:
-Achei que você nunca fosse pedir, e da um beijo daqueles cinematográficos em Sarah.
Para surpresas da igreja as duas saem correndo e fogem levando somente a roupa do corpo e o jogo de panelas que Sarah daria de presente aos noivos e depois disso, nunca mais são vistas. Uns dizem que são felizes outros dizem que não durou nem um ano.
Já Edson é visto freqüentemente em sites de encontro de namorada em que deixa bem claro em seu perfil que procura mulheres sem amigas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Conversível Azul Celeste

Ernesto era um homem sério, muito trabalhador e possuía um bom cargo na empresa de seu tio Rubens, ele era o responsável por todo o setor de datilografia.

Seu grande amigo Cícero fazia trabalhos aqui e ali de forma que pudesse levar a vida. Mas ele nunca aceitou o fato de ter que se esforçar além dos outros e mesmo assim possuir uma condição inferior.
Cícero gostava de brincadeiras, que de uma forma geral davam a ele uma certa vantagem.

Certo dia os dois se encontraram no centro da cidade próximo ao bondinho e Ernesto gritou:

- Cícero! Cícero!

Este quando ouviu por seu nome e viu o amigo parou sua corrida para o bonde
e foi cumprimentar seu amigo.

- E aí rapaz como estás? Perguntou Ernesto.
- Sabe como é, um trabalho aqui outro ali, mas vou levando.
- Estavas a pegar o bonde para casa?
- Sim, antes que fique tarde demais.
- Venha comigo, comprei um carro novo, lindo demais!

Ao chegarem no estacionamento Cícero vislumbrou aquela belezura.
Azul celeste metálico, rodas de banda branca e bancos em couro; mal pode conter toda a sua inveja.
Ernesto levou o amigo até sua casa e de lá se despediram.

Cícero passou a noite em claro bolando meios de ganhar aquele carro, e sabendo que Ernesto acreditava muito e azar, trabalhos e afins elaborou seu plano para tomar posse do conversível de Ernesto.

Todos os dias pela manhã Cícero fazia algo a danificar aquele carro.
Arranhou lataria, furou pneu, esvaziou step, riscou o vidro, tirou até mesmo a tampa do bico do pneu.
Até que certo dia não agüentou tamanha insistência de Ernesto em manter o carro e foi além, arrancou o cabo de freio do conversível.

Cícero imaginava que Ernesto iria novamente para o centro, para a velha empresa de seu tio, no entanto Ernesto precisava visitar clientes no interior do estado.
Ao pegar a curva do Catombo na estrada para Vassouras, Ernesto não encontrou freio e seu carro foi ladeira abaixo, capotando diversas vezes até chegar ao fim.
Cícero na manhã seguinte veio, a saber, que seu amigo se acidentara e que havia falecido.
Compareceu ao enterro de seu amigo onde ofereceu toda a sua ajuda a família e principalmente ao dono da empresa, tio de Ernesto e hoje ocupa o cargo de Ernesto na empresa e possui o mesmo conversível azul celeste recuperado do ferro velho por 500 réis.

Semana passada o Tio de Ernesto comprou um Cadillac vermelho e parece que Cícero não ficou muito contente...

O primeiro emprego

Carlinhos era um estudante fenomenal, um estudante nota dez, interessado, estudioso, fazia todas as lições, nunca faltava aula, um verdadeiro motivo de orgulho aos pais e dar inveja aos amigos, principalmente a Marcos, seu vizinho de anos, que sempre acabava sendo comparado a Carlinhos por sua mãe que dizia:

- Menino, você vê o Carlinhos, a mãe dele me disse que ele tirou outro dez, e você? Quer ser o que quando crescer? Não larga a mão dessa rua, só quer ficar jogando bola, e namorando essas meninas, o que você vai fazer da vida? Não tem jeito Marcos, você não tem jeito.
E Marcos se silenciava e engolia aquela comparação, pois via Carlinhos rindo para ele com o ar superior e de deboche.
O tempo passou e Marcos sumiu da cidade e nunca mais foi visto por ninguém e Carlinhos enquanto isso como todos esperavam se formou, passou no vestibular de engenharia em primeiro lugar e virou o orgulho da cidade que só sabia falar em seu sucesso.
Os pais de Carlinhos viviam orgulhosos, pois o filho tinha arrumado um emprego em uma multinacional e gostavam de contar isso em qualquer mínimo diálogo que tivessem até mesmo como um desconhecido como em uma fila de supermercado pegavam um produto qualquer e diziam:
-Isso foi feito por uma multinacional né?
E a pessoa meio que sem jeito e sem entender dizia:
- Sim, acho que sim. E virava o rosto
E continuavam
-É, nosso filho está trabalhando em uma.
-Legal!
E essa rotina se seguiu até o primeiro dia de trabalho de Carlinhos, que foi acordado por seus pais, que prepararam um super café da manhã com pães, frutas, vários tipos de geléias, sucos, um verdadeiro banquete, antes visto apenas em novela e filmes, afinal o grande dia tinha chegado. Carlinhos estava lá, nervoso, mas ao mesmo tempo confiante, pois mostraria para todos o seu conhecimento adquirido em anos de estudo.
Na verdade surpreendendo a todos Carlinhos no caminho até o escritório passou a ser tomado de uma autoconfiança absurda que o incentivou começar a fazer planos de como faria para chegar a presidência da empresa ou a solucionar problemas crônicos da empresa, ele viria revolucionar o mundo da engenharia.
Chegando no escritório ele fica ainda mais engrandecido ao ver a sala da presidência que era linda, grande, imponente, tudo que ele mais desejava na vida, mas viu que seu caminho a ser percorrido seria bastante longo, pois ficou um pouco decepcionado com o tamanho de sua mesa que ao contrário da tão almejada sala da presidência, cabia apenas o monitor de seu computador e um telefone, nem a porta caneta cabia, mas Carlinhos não se abalou sabia que conquistaria seu espaço, como sempre fez na vida.
Já se passam 2 horas e Carlinhos não recebe nenhuma tarefa, nesse tempo apenas guarda todos os enfeites e fotografias que levou para decorar a sua mesa, mas seus 50 cm de diâmetro não as comportavam.
E enquanto se distrai pensando em uma conta ou outra e de seus momentos de glória na vida acadêmica a sala grande se abre e dela saí uma secretária que dá o seu primeiro trabalho concreto na empresa, e ele se enche de esperança, sabe que ali começa a sua grande chance rumo o reconhecimento no mundo profissional e entre uma coisa e outra ele descobre qual é seu trabalho, e meio sem graça pergunta:
-O quê? Sublinhar toda a letra “A” de um texto de mil páginas?
-Sim, o Senhor Albuquerque o pediu para fazer isso.
Ele engole todo seu orgulho, sabia que era melhor que aquilo, mas faz para manter seu emprego ainda recém conquistado.
No decorrer do expediente, trabalhos de tipo se repetem e Carlinhos se vê obrigado a colar páginas, queimar relatórios, todos os tipos de tarefas que não precisariam de o mínimo de conhecimento acadêmico.
Ele chega ao seu limite, estava longe de ser aquele Carlinhos tranqüilo e bondoso, queria reivindicar seus diretos, brigar por tudo que conquistou e nesse momento inspirado em um livro de Che Guevara que ele da um surto entre uma colagem e outra e joga todo o papel para o alto e invade a sala do seu Albuquerque.
E chega dizendo:
-Olha...
Carlinhos ao entrar na sala de Albuquerque não acredita em seus próprios olhos, era ele, era Marcus seu amigo de infância, que tinha casado com Martha Shumechen filha do dono da empresa, sentado ali, na cadeira que em seus pensamentos pertencia a ele e não podendo conter toda a ira de anos de estudo a troco de nada, Carlinhos saca uma caneta Mont Blanc dada pelo seu pai em seu dia de formatura que continha a seguinte frase “conhecimento é tudo” e mata Marcus com vários golpes no pescoço.
Por alguns instantes Carlinhos permanece estático, parado e é aí que um esboço de sorriso começa a ser visto em seu rosto que em nenhum momento se desespera e com a frieza de um profissional coloca o corpo de Marcus escondido de baixo da mesa, ajeita a camisa e finalmente sentando na cadeira que segundo ele mesmo, por direito teria que ser dele, pego o telefone e diz:

- Dona Arlete, pede pro faxineiro vir aqui limpar a bagunça e me traga um café... sem açúcar, por favor.