domingo, 17 de novembro de 2019

No Fundo da Gaveta

Desde criança lembro-me de ver a gaveta do meu pai
E sentir uma coisa estranha…

Acho que desde sempre ver papéis

Anotações
Fotos e documentos de outra pessoa
Me deixou extremamente melancólico.

Como se ver aquilo ali guardado
Tomando todo o cuidado para lutar contra o poder do tempo
E com a desculpa que ainda será importante um dia
Demonstrasse pra mim que alguém realmente se importa
Sente algo 
Precisa daquilo
E sabe-se lá porque me fizesse sentir pena.
Como se nossa vida toda fosse se resumindo nisso.
Em pedaços bem guardados dos nossos feitos
Espelhos moldurados para lembrar quem fomos
Sonhos que levamos impressos dentro de pastas.
Momentos exaltados que vivemos
Um acúmulo de objetos que nos lembram coisas que fizemos
Seguimos
E deixamos pra trás.
Mas se está ali guardado
Embrulhado 
Com todo carinho e cuidado
Mostra que nunca realmente deixamos pra trás…
Como se das coisas que mais importam
Ter um papel amassado
Amarelado 
Guardado no fundo de uma gaveta 
Que significasse tudo
Na realidade mesmo não fosse nada.

Nada além de lembranças
Nada mais que triste…