segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Imperfeito



Sempre fui fascinado
Por tudo que não tem pretensão de ser perfeito.
A bagunça
O que é torto
O jeito despojado
A distração
A imperfeição
E tudo que tenta sim 
Ser mais e melhor
Mas respeitando o limite
Entre o evoluir
E o deixar de ser o que é.
Gosto dessa autenticidade
Que a não preocupação com certas coisas causa.
Aquele cabelo despenteado
A barba que fica pra fazer
O amassado na roupa
O desapego a coisas materiais
A mania
O que não é simétrico
E a aceitação de que a diferença é que dá a graça ao todo.
Pra ser mais exato
Nunca confiei muito naquela coisa certinha
Que existe no impecável
No simétrico
No inabalável
No perfeito
Naquela coisa que segue um roteiro
Que começa
Termina
E acaba
Conforme o programado
Sem falhas
Nem mudanças de plano no meio da jornada.
Ou aquela coisa que de tão linda
E perfeita
Chega a ser feia
Fica tão artificial 
Que perde a graça.
 Gosto de coisa assim
De gente assim
Que é gente
Que fala besteira
Que desafina
Que é distraído
Que se perde
Que tem imperfeições
Que xinga
Que erra
E erra de novo
E quem sabe 
Só pra não perder o costume
Erra mais uma vez
Até acertar...
Gosto é disso
Do normal
Do limitado
Da cicatriz
Do que se suja comendo sorvete
Do que tem marcas 
Mas se aceita
E é feliz do jeito que é.
Não dessa coisa chata
Falsa
E não autêntica
De tentar ser perfeito
Mas no final das contas
Não ter nem a coragem de assumir
Que na verdade
Não é porra nenhuma
Simplesmente porque se acha bom demais
Pra dizer um mísero palavrão
Ainda que o mesmo seja verdade...

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