O mais
triste é que o tempo não te avisa, não manda recados e assim a gente nem percebe, ou finge que não. Primeiro é um
cabelo branco aqui, outro ali, depois vem uma dor, a vista que piora,
aniversários e mais aniversários. Deixamos de ser chamados de tio e viramos “vovô”, deixamos de atuar e viramos "café com leite" (tipo criança e bêbado), deixamos de ser vistos e viramos invisíveis, meros figurante dentro de uma multidão considerada ativa não pelo o que pensa, mas sim pelo o que faz.
Hoje é
assim que me sinto, sentado aqui, sozinho
nessa esquina na qual venho todos os dias e ninguém se importa. As vezes
até passa alguém pedindo um cigarro, perguntando se preciso de alguma coisa, se estou passando mal, "onde está sua família", ou uma preocupação qualquer digna de um inválido... Será que ninguém pode agir como
se eu fosse normal e pronto? Onde será que essa minha velhice virou sinal de impotência
e pena? Tenho orgulho de tudo que vivi e
conquistei, vi tantas coisas que nem caberiam nesses celulares que vocês passam
mexendo enquanto nem olham pra mim, mas nem disso querem mais saber. Afinal, se meus filhos tem tempo para mim, por que esses aí, filhos de outros teriam? É uma pena, porque poderia dizer tanta coisa que ninguém nunca me disse. Sei sobre muita coisa sabe? Sei que tudo um dia passa, sei que sempre existe um amanhã, sei que a vida dá voltas, mas também sei sobre o amor, felicidade, angústias, medo, ganhar, acertar e errar, mas principalmente sobre perder... A verdade é que a vida é nada mais que um conjunto de perdas, pesadas, duras, que a gente acha que não vai aguentar... Mas no final, mesmo sem saber como... Aguenta...
Apesar de
sobreviver, ta aí uma coisa que eu ainda assim não sei fazer: Dizer adeus. Engraçado
é que por mais que a gente dê a gente nunca se acostuma. Contrariando um ditado, nem toda a prática
leva a perfeição. Existem coisas que a
gente simplesmente não consegue e pronto, por mais que seja obrigado a fazer.
Outra lição
que eu diria se um dia alguém quisesse me ouvir é: Seja quem quiser, mas pelo menos seja. A vida passa, a gente cria
responsabilidades, tem compromissos para arcar, e quando menos percebe passou a
vida inteira acordando e dormindo por um ideal que nunca teve. Foi levado pela
vida ao invés de levá-la, e quando tudo acaba e enfim chega a estabilidade da
aposentadoria, você já não tem disposição para ir a lugares, os filhos já estão
ocupados com seus filhos, os netos acham mais legais os videogames, a maioria dos amigos já se foram, e o máximo que te sobra de
todo o trabalho, é o lazer de passa o dia inteiro, sentado nesse banco...Vendo sem ser visto.
Estranha essa
coisa de se sentir um “estranho” ao seu tempo. As roupas que visto já não se
usam, os valores já não existem, os cantores que tanto ouvia já morreram , os hobbys
estão extintos, não me adaptei as novas tecnologia, e daí, como tudo que não serve sou excluído, deixado de lado, como se
tudo que vivi até hoje em dia, já não valesse mais de nada... A vida é cruel, nos
descarta, nos isola dentro de nós mesmo. De que adianta ir a qualquer lugar, se me sinto estranho dentro de mim mesmo? E provavelmente, isso vai acontecer com você...
Mas ainda assim. Não desista nunca de nada. Não desista nunca dos dias, das pessoas, nem das coisas... Se um dia alguém quisesse mesmo me ouvir eu diria: "Olha, ainda assim, a vida é boa. Mesmo apesar de toda despedida, de todo o tempo que passa rápido, de toda “descartabilidade´, de toda a invisibilidade que traz a velhice e de todos os sonhos que não se realizam, do outro lado tem o amor. E talvez é por ele, na lembrança dele, nos momentos que ele me causou, na força que ele me deu, na pessoa que ele me tornou e talvez por isso, só por isso, que eu ainda acordo, levanto, venho aqui , e faço igualzinho, dia após dia no dia seguinte... "
Mas ainda assim. Não desista nunca de nada. Não desista nunca dos dias, das pessoas, nem das coisas... Se um dia alguém quisesse mesmo me ouvir eu diria: "Olha, ainda assim, a vida é boa. Mesmo apesar de toda despedida, de todo o tempo que passa rápido, de toda “descartabilidade´, de toda a invisibilidade que traz a velhice e de todos os sonhos que não se realizam, do outro lado tem o amor. E talvez é por ele, na lembrança dele, nos momentos que ele me causou, na força que ele me deu, na pessoa que ele me tornou e talvez por isso, só por isso, que eu ainda acordo, levanto, venho aqui , e faço igualzinho, dia após dia no dia seguinte... "
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