quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pavões


Sempre gostei muito do livro de George Orwell chamado a Revolução dos Bichos porque acho que ele, apesar de ser uma história de ficção sobre animais, diz muito sobre nossa sociedade.
Esses dias andei me lembrando de como eu era fascinado por política quando era criança. Adorava os jingles das campanhas, acompanhava a propaganda na TV, sabia todas as legendas, até santinho eu colecionava, mas com o passar do tempo fui me desinteressando cada vez mais.
Eu nunca mais parei pra pensar nesse fato, mas esses dias cheguei a conclusão que o interesse pela política acabou no exato momento em que minha inocência se foi.
Depois de tantas esperanças vindas de apertos de mãos, ilusões com nomes e sorrisos que pareciam brilhar e, consequentemente, desilusões vindas dessa merda toda, eu simplesmente fiz a pior coisa que poderia fazer... Deixei de acreditar.
Confesso que eu até invejo quem ainda acredita, tem esperanças e luta por seus candidatos sem ganhar nada em troca. Apoiam apenas por acreditar em ideias, por achar que o candidato é diferente, é bem preparado para fazer a diferença e passam isso a frente, se tornam cabos eleitorais não remunerados, como acontece agora no Rio de Janeiro pela candidatura do Freixo.
Eu admiro, mas não acredito. Como não acreditei na Marina, no Gabeira, no Papai Noel e no Pinóquio.  Não sei se eu sou duro demais em perder a esperança assim, mas confesso que eu torço muito para alguém chegar um dia e me provar que eu estou errado e as coisas sim podem ser diferentes.  Mas talvez ainda pior do que perder a esperança sejam certas pessoas que fazem alianças, ou apoiam candidatos mais que sujos em troca de cargos e benefícios próprios. Como alguém pode ser tão egoísta a ponto de prejudicar toda uma nação, apenas para ganhar algo em troca? Como nomes como o da família Garotinho, Maluf, Sarney e Collor podem ainda existir na política brasileira? Eu estou errado de não acreditar?
Enfim...
Essa situação me lembra muito a euforia existente pelo PT antes de 2002. Época em que era comum ver jovens estudantes com blusas, broches do partido, comprando realmente a ideologia que com o PT no poder, iriam mudar o país. E aí, assim como a Revolução dos Bichos, o PT chegou ao poder e o que se viu? As mesmas coisas boas de sempre e os mesmos escândalos de sempre...  Eu estou errado em deixar de acreditar? Será que todo mundo que acreditava no PT simplesmente desacreditou como eu ou continuam apostando em novos candidatos. Vai saber.
Eu não sei o que acontece, eu não sei se o candidato já aqui fora faz essa de bom moço, só mostra suas qualidades como um grande pavão enfeitado ou se ele realmente é honesto com seus ideais, mas de uma maneira ou outra, talvez por impossibilidade de ação ou falta de recursos, é engolido pelo sistema e de Salvador da Pátria (Viva Sasa Mutema), se torna mais um da corja.
Historicamente isso é comprovado. Quantos no governo de hoje não lutaram contra a ditadura em prol de liberdade e condições melhores, mas hoje são criticados por outros que também lutam contra os que estão no governo. Quantos não foram Líderes Estudantis e hoje fazem parte dos que não ajudam na educação e são criticados por uma turma que quer melhorias? A máquina não para!
Por isso gosto tanto da Revolução dos Bichos como uma maneira de ver o jogo de poder da nossa sociedade: A parte desfavorecida, mesmo sendo maioria, não satisfeita, se organiza entre si e decide tomar o poder com um de seus representantes que promete continuar sempre sendo fiel aos interesses da maioria. Continuar sendo um deles. A maioria acredita, luta, briga, vota e elege o representante. E quando o mesmo enfim chega ao poder, ele percebe que esse lance da maioria, não tá com nada e que existem coisas maiores (e mais lucrativas) para se preocupar. E eu pergunto: Eu estou errado de deixar de acreditar?

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