quinta-feira, 9 de julho de 2015

Liquidez

Eles se conhecem e se interessam
Às vezes por amigos
Às vezes por coincidência
Às vezes por destino
Às vezes por nada...
Saem
Conversam
Se divertem
Se aproveitam
Se curtem...
Mas no dia seguinte
Tudo esfria:                          
Ele se empolga
Ela muda.
Ele insiste
Ela enrola.
Ele fala piadas
Ela ri.
Ele é direto
Ela pisca.
Ele insiste
Ela tá nem aí.
Ele pergunta
Ela nem responde.
Nesse romance ensaiado
Em que ele pode ser ela
E ela o tempo todo ele...
Em tempos virtuais essa história antes incomum é mais que conhecida.
As pessoas se descobrem facilmente
Conhecem-se rapidamente
Ficam íntimas
Conversam o equivalente há horas em alguns minutos.
Encantam-se
Tem tudo pra dar certo
Mas se dispensam por detalhes irrelevantes...
Descobrem incompatibilidades intoleráveis.
Desistem pelo jeito.
Por um gosto diferente
Pela aparência.
Pela falta de dinheiro
Por não dividir a conta
Ou por qualquer motivo que com o passar do tempo
E o aumento de qualidades
Seriam totalmente irrelevantes.
Nos dias de hoje
Os motivos para não prosseguir
Para não ir em frente
Não sair de novo
São sempre maiores do que o de dar outra chance
De tentar se envolver
Deixar conquistar
Ou de dar uma oportunidade
Pra alguém que realmente merece essa oportunidade.
É o pessimismo coletivo!!!
Já começam algo procurando motivos para não dar certo.
Até porque dar certo no mundo solitário de hoje
Passou a ser sinal de pegadinha
“Ninguém pode ser tão legal”
Sempre tem que haver “algo errado aí”.
O mundo está cada vez mais frio e menos resiliente.
As pessoas não investem
Se descartam
Não resolvem seus problemas
Desistem no primeiro empecilho
Acham que não vai pra frente na primeira mancada
Na primeira bola fora
Julgam pela aparência
E assim seguem nessa busca vazia
Pela autoestima perdida.
E movidos pelo ego
Insistem no que não devem
Esquecem o simples
E apaixonam-se apenas pelo desafio
Pela a rejeição
Por tudo aquilo que não tem...
Tendem a desejar nas palavras por um tipo ideal
Mais interessante
Inteligente
Que faça bem.
Mas quando o tipo aparece
Voltam a procurar o mesmo de antes
Onde a satisfação visual
Acaba sendo tudo que importa.
Vivemos em um período cada vez mais frio
Como diria Bauman
Em uma “Liquidez de relacionamentos”
Em que as pessoas são cada vez mais superficiais uma com as outras.
Participamos da maior ironia de todas:
Descartamos conhecidos
Deixamos no vácuo pessoas que querem investir em nós
Nos dar atenção.
Pessoas próximas
Seres humanos do dia a dia que querem se mostrar interessantes
Que merecem ser conhecidos mais a fundo
Que fazem tudo para nos conquistar
Para nos afogarmos em aplicativos
Em relacionamentos frios
Triviais
Com pessoas que nunca vimos
Sem nada em comum
Feito por fotos de personagens
Que inventam através do virtual
Uma vida que não tem.
Reforçam a tese mais utilizada em tempos de Instagram
De que parecer
Vale muito mais a pena que ser...
E assim segue o casal que não funcionou no começo do texto:
Os dois no fundo infelizes e solitários
Perdendo tudo que poderiam um dia ser
Enquanto procuram o “grande amor da vida” por aí.
Mas ele se achando mais esperto que ela
Porque ainda assim fala com várias.
E ela achando que é melhor que ele

Só porque nunca mais respondeu a mensagem...

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