segunda-feira, 8 de junho de 2015

Azul

Hoje o céu estava tão azul
Tão claro e especial
Que chegava dar paz.
Um bem-estar indescritível e incontrolável. 
Eu parecia estar vivendo uma dádiva.
Senti uma vontade absurda de viver
De ser
Fazer
E acreditar no milagre daquele azul.
Que mesmo com a noite que uma hora chegaria
Dentro de mim 
Seria capaz de durar pra sempre.

Hoje o céu estava tão azul
Tão calmo e bonito
Que eu não me senti mais sozinho
Lembrou-me as melhores coisas da vida.
Era um azulado capaz de ser tanta coisa:
Tinha cor de alegria
Forma de abraço
Jeito de família.
Tão lindo que parecia um poema do Leminski
Tão transparente
Que mesmo sem enxergar
E eu era capaz de me ver do outro lado.
  
Hoje o céu estava tão azul
Que eu nem me lembrei dos problemas
Nem limitações de uma vida sem imaginação.
Era como se o azul me dissesse
“Você pode tudo”.
Eu só precisava tocá-lo
Sem me importar com a altura
Ou o medo que eu tinha dela
Eu só queria ir lá
Eu só precisava ir nele.

Hoje o céu estava tão azul
Que eu nem sentir mais vontade de chorar.
Fui capaz de deixar pra trás as mágoas e culpas.
Como se o azul
Aquele azul que me brilhava nos olhos
Também fosse capaz de me perdoar
E de me fazer perdoado.

Hoje o céu estava tão azul
Que parecia uma piscina.
E me deu uma vontade louca de nadar por dentro dele.
Como se eu fosse capaz
De respirar de baixo d’água. 

Hoje o céu estava tão azul
Que parecia uma pintura.
Tão vivo e esperançoso
Como um desenho de uma criança
Feito com lápis de cor.
Puro
Inocente
Sem maldades.
Como se ele me dissesse
Sem uma palavra sequer
“Calma que vai ficar tudo bem”.

Hoje o céu estava tão azul
Que nele parecia que ainda cabia todo mundo.
Nem me recordei dos desencontros
Ou das despedidas.
Estava tão aconchegante que dizia
“Chega mais”.
Perante ele éramos todos iguais.
Parecia que todo mundo ainda era capaz de viver ali
Sobre o mesmo céu.

Hoje o céu estava tão azul
Que não precisei de mais nada.
Ele me fez companhia por todo dia.
Eu me apaixonei
E nem quis saber mais de Arco-íris.
Por um tempo só aquele azul que me importava
Perdi meu poder de escolha.
Fui capaz de esquecer todas as outras cores.
   
Hoje o céu estava tão azul
Que ele por si só já era uma paisagem.
Não tinha nuvem
Só o brilho do sol lhe fazia companhia.
Fui até capaz de duvidar
Se aquele azul sabia o que era tristeza.
Se por aquele céu
Algum dia já foi capaz de passar alguma tempestade.
  
Hoje eu estava tão azul
Que eu cheguei a pensar que sorte que eu tinha
De presenciar esse momento.
Eu só queria sair correndo sem rumo
Sem direção
Sem regras
Sentir o vento no meu rosto
Ver o limite de cada fronteira
Como se entre eu e o céu
Não existisse mais nada
Não houvesse mais depois.
  
Porque hoje o céu particularmente estava tão azul
Que me fez ter a certeza
De que a tudo valia a pena...
Tão azul
Mas tão azul
Que de tão azul
Eu que já fui cinza
Fui capaz de voltar a acreditar na vida...


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