quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tempo

Estranho é ver a ação do tempo:
Nos lugares que eu passo.
Em um ponto qualquer que já foi.
O escombro perdido que será.
No desbotado que continua sendo.
Na cor viva que se tornou agora.
Em tudo que se constrói
Na despedida que destrói.
No bem-vindo que se recria.

Estranho é ver a luta contra o tempo:
Nos cabelos brancos que nascem.
Nas rugas que surgem.
Das limitações frequentes empostas pelo corpo.
No rosto cada vez diferente no espelho.
No olhar triste que sente saudades de quem já fui.
Nas fotos amareladas cheias de histórias.
Nas músicas viram clássicos.
Na vida que luta pra ser relevante
Mas que uma hora ou outra se entrega.

Estranho é ver as várias facetas do tempo.
Perdido entre fases.
Na possibilidade de um "talvez".
Caracterizado por momentos
Que de tão distantes um do outro
Deixam a sensação de quem nem existiram.
Mergulhado entre altos e baixos
Que às vezes eu passo
E ás vezes me deixa pra trás.
Que ás vezes eu mato
Em outras quase me mata.
Que às vezes eu risco
E que outras me rabisca todo.
Sempre a mercê do às vezes.


Estranho é ver as curiosidades do tempo:
Nas gerações com letras nomenclaturas que surgem.
Na tecnologia que transforma.
Nas cartas que não se escrevem.
Na caligrafia que se desconhece.
Nos telefones que já não servem pra ligar.
No jeito de se relacionar
De se comunicar.
Nos cliques tão ágeis
Que deixam os momentos cada vez mais curtos.
Capazes de com uma simples deslizada de dedo
E posts de neo celebridades impostas
Fazer a moda virar brega
E o brega voltar a ser moda.

Estranho é ver essa triste covardia do tempo:
No desencontro de almas.
Na existência que escapa pelas mãos.
Na falta do que não se tem.
Com a saudade de quem não está.
No adeus não dado.
No "tchau" que toda vez pode ser o último.
Em forma de vazio
Blasfemado pela falta de noção de grandiosidade
Que tem um nunca mais.

Mas estranho mesmo é ver as surpresas do tempo:
Na esperança do futuro.
Na espera pelo desconhecido.
Na fé por dias melhores.
No sorriso inesperado de cada dia.
Em tudo aquilo que chamamos de destino.
No encontro que surpreende.
Na sincronicidade presente em toda esquina.
Na serendipidade de cada topada.
Na sensação confortante
Que enquanto esse "tempo estranho" existir

Tudo pode ser...

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