E infelizmente mais um crime, entre tantos que temos todos
os dias, toma conta da pauta de assuntos mais comentados de nossa cidade. Mais
uma vez, nos encontramos com histórias repetidas, como cenas já previstas, com
um roteiro já mais que cantado. E mais uma vez, mesmo com nada de novo, mais
uma vez... Choca!
A morte de ontem do ciclista não foi diferente das tantas
mortas injustas que temos todos os dias. Não foi diferente da morte de crianças
vitimas de baladas perdida. E nem foi diferente das dezenas de crimes cometidos impunemente a cada dia nessa cidade. Mas ainda assim acaba tendo uma maior
visibilidade nos meios de comunicação, um compartilhamento superior em redes
sociais, e uma indignação popular ainda mais fervorosa, tudo isso pela proximidade do caso e a sensação apavorante
que “poderia ter sido eu, meus filhos ou
meus pais” dá.
A grande verdade, por mais que ninguém assuma, é que quando
crianças são mortas na favela, impressiona, mas pensam: “É favela, triste quem
mora lá, mas eu não moro”. Quando policiais tentam reagir assaltos e são mortos,
outros pensam: “Que trágico, mas eu não sou policial”. Mas quando uma pessoa
comum, como todos. Que está em um local que muitos passam, fazendo o que todo
mundo faz, na hora que muitos fazem, é que realmente a ficha cai do quanto
estamos desprotegidos dentro do Rio de Janeiro.
Quando esses casos acontecem, é que a sociedade percebe que
não tem mais para onde fugir, que não é só o morador de rua, ou quem pega
ônibus que pode ser assaltado, que não precisa estar na Lapa de madrugada ou em
um bar para ser esfaqueado, que andar de vidros fechados ou sair de asa apenas pela manhã não impede de ser
assaltado, e assim, chega-se a desesperada conclusão que dentro desse universo
amedrontador do “poderia ser eu”, a
única coisa que protege é o fator sorte (ou azar), nada mais.
Independente da discussão sobre pena de morte e maioridade
penal que sempre vem com casos do tipo, o que novamente se vê nisso tudo são
dois pontos: Um é que a sociedade tem que entender de uma vez por todas, que
esse é o problema social. É um problema interligado, de várias camadas, que
começa na favela e desencadeia no “asfalto”.Horas começa no “asfalto” e
termina lá na favela. Por isso, esse grito
de repudio e de insatisfação, a bandeira por justiça e um misto de revolta e
medo estampado no rosto de todos, deve existir em todo os casos. Tem que se preocupar com jovens, com a base, com as crianças que nascem sem ter o que comer e quando crescem se tornam isso que queremos tanto ver na cadeia. Vamos pensar em uma reforma, investir na educação, no esporte. Não vamos mais
esperar turistas e médicos serem assaltados para tomar providências. Vamos nos indignar por Amarildos, Marias, Josés
e por cada cena de descaso que nos fará ser menos humano e alimentará ainda
mais esse ciclo vicioso de crimes em nosso estado.
E um outro ponto, ainda mais importante, é minha indignação
perante ao Governo e a polícia do Estado que estão cansados de saber onde estão
os focos problemáticos da cidade, que recebem denúncias diariamente sobre eles, que veem matérias
sobre o uso de drogas em diversos pontos, mas que ainda assim parecem
contaminados com o ciclo já mais que conhecido do “é assim mesmo e não vai
mudar”.Estão mais preocupados em fortalecer ainda mais a operação Lei Seca, que
movimenta um verdadeiro exército em todas as suas blitz, se reinventa, busca cada
vez mais melhorias, tudo porque no final das contas, é mais lucrativa.
E assim, esperam outra vítima ser assaltada,
baleada, esfaqueada, morta para então reforçar
o policiamento, rever leis e buscar por justiça, até que novamente isso seja
esquecido mais uma vez (pela sociedade, pois quem perde um ente querido não
esquece nunca mais), outro crime aconteça e o ciclo seja revisto de novo e de
novo, e de novo.
Afinal, o grande estalo e indignação sempre vem, quando se percebe que se depender do governo e das autoridades estamos totalmente desprotegidos, afinal, vivemos em Estado que tudo pode sim
acontecer com a gente, menos, andar com o IPVA atrasado...
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